terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Não podias, não podias ter escrito sobre isto.

Sabem aqueles momentos, aqueles segundos que fazem parar a vossa vida, que provocam uma revolução no vosso estômago, que vos fazem tremer as pernas e que põem a vossa cabeça a fazer cambalhotas? E que fazem o tempo parar mas que nos provam que, afinal, já passou muito mas muito tempo.

Ora estava eu esta tarde muito atarefada a fazer as tradicionais compras para a Consoada, no Continente [depois de FINALMENTE me ter libertado da neve aqui à volta], a tentar encontrar um funcionário amigo para me dizer onde poderia encontrar globos [sim, aquelas representações do planeta Terra, algumas com luzes e outras, vá-se lá saber porquê, com música, e que vai ser uma das prendas-surpresa para a minha dearest sis] quando, para cortar caminho, já que o lugar onde eventualmente estariam os ditos globos seria do outro lado do hiper, eu meto pelo corredor gigantesco dos brinquedos, das Barbies, dos carrinhos. E de repente, no espaço de segundos, cai, a meus pés, uma caixa dos bonecos da Pin&Pon. E a minha vida parou. Eu gelei por dentro, as minhas pernas tremeram e o meu estômago apertou-se quando os meus olhos tocaram na cara daqueles bonecos pequenos e bonecos demais para saberem o quanto mexeram comigo. E fui eu outra vez, aquele eu morto e enterrado há tanto tempo, aquele eu magoado, aterrorizado, perdido, assustado, um eu no meio de uma multidão de pessoas, perfeitos desconhecidos, mas o meu eu. Queria gritaaar, queria pegar naquela caixa e fugir dali, queria que a caixa nunca tivesse caído. Queria ser invisível ali e naquele momento.  Mas não podia, porque estava rodeada de outros seres humanos, alienados demais para perceberem o que se passava na minha cabeça. Nem poderiam sequer perceber.
E as lágrimas caíram.
Nisto chegou a minha sis, que andava louca à minha procura, porque já tinha passado muito tempo desde que eu tinha saído de junto dela, e olhou para mim, depois para a caixa no chão, e apercebeu-se. Apercebeu-se que aquele momento era exactamente, exactamente igual a um outro momento que aconteceu há uns três anos atrás. O mesmo contexto, o mesmo cenário, a mesma época, a mesma caixa dos mesmos bonecos. Mas uma Sara completamente diferente. Pegou na caixa, pô-la na prateleira e disse-me 'You just have to let it go.' [And I did. But on Christmas I don't do it very well.]

Fui-me embora dali a tropeçar na letra da música que então soava naquele momento /but the very next day you gave it away../

Mas vá lá que ainda disse olá à Leopoldina. :) É Natal, ho ho ho!

[Não podias, Cosmo Girl, não podias ter escrito sobre isto.]

1 comentário:

Cathy Oh disse...

O acto de escrever algo obriga a que nos compreendamos melhor, porque podemos desabafar sem que ninguém nos faça perguntas e podemos escrever da forma que quisermos.
Por isso, sim, podias ter escrito sobre isto. Afinal de contas, este é ou não é o teu espaço?!
E se é o teu espaço, podes falar de tudo o que TE diga respeito e um dia destes esta fase do teu passado teria de figurar aqui, por muito que não o quisesses.
Pq só te fez ficar mais forte e crescer.

'What doesn't kill you, simply makes you stronger'.

PS: e seja aqui ou no Convivio eu vou estar sempre a dar-te uma mãozinha. :)*